Igrejas comuns fazem o ordinário, igrejas missionais fazem o extraordinário. E essa igreja missional só transita no mundo extraordinário, porque não nasce da vontade do homem, mas tem a sua origem em Deus. Outras instituições podem ter uma motivação inicial humana, mas as igrejas essencialmente missionais têm sua origem em Deus, o Todo-Poderoso. Ele mesmo é quem planta o desejo em seus filhos, para que estes executem os seus projetos em todos os cantos da terra.

Faz parte do projeto de salvação daqueles que foram chamados para a vida eterna, serem alcançados pela mensagem pregada por uma igreja missional. O Senhor mesmo envia sua igreja até os eleitos, para que estes ouçam o Evangelho e se convertam.

É importante saber que a igreja é essencialmente missionária. Se não for, perde sua razão de ser. Toda a vida da igreja está fundamentada na missão. É muito bom (e importante) que a igreja adore o seu Redentor, porém, sua principal tarefa hoje é a de resgate dos que ainda não foram alcançados. A igreja terá uma eternidade para adorar o seu Senhor, para cantar-lhe louvores, mas apenas neste momento, enquanto ainda não foi chamada ao céu, é que ela tem a oportunidade de anunciar a salvação aos perdidos.

Isso não significa que a igreja deve parar de adorar, de celebrar louvores e viver apenas em função da evangelização, mas que deve priorizar o anúncio das Boas Novas. Ela só tem o aqui e agora para realizar a sua missão. No céu a igreja não terá mais essa tarefa. Portanto, deve-se esforçar ao máximo para ser missional, aproveitando todas as oportunidades, pois esse é o tempo de cumprir o propósito de sua existência: anunciar a todos que há salvação em Jesus, que a vida pode ser diferente e significativa. David J. Bosch sempre entendeu que a essência da igreja estava em sua missionalidade. Para ele, a alma da igreja estava em sua missão.

Na emergente eclesiologia, a igreja é vista como essencialmente missionária. O modelo bíblico por traz dessa convicção, e que encontra sua clássica expressão no AG 9[1] (“A igreja peregrina é missionária por sua própria natureza”) é o que vemos em I Pedro 2.9[2]. Aqui a igreja não é quem envia, mas a enviada. Sua missão (o fato de “ser enviada”) não é secundária em relação à sua existência; a igreja existe visando à missão.[3]

Ser igreja missional, portanto, requer daqueles que dela participam um compromisso com Aquele que a comissionou. Não se faz a missão quando não há compromisso com quem vocaciona, pois Deus chamou a igreja para realizar o que está em Seu coração. Ele enviou o seu filho Jesus – que morreu no lugar dos eleitos – e agora envia a igreja para anunciar a sua obra salvífica. Cabe, portanto, aos salvos, proclamar a salvação a todos e convidar quem quer que seja a aceitar o convite de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.[4]

Não ser missional é contentar-se apenas com o ordinário, a despeito do extraordinário, é viver como mero religioso, que pensa que toda sua missão consiste apenas em acender ou apagar velas assim que o rito acaba. Não ser missional é perder o melhor da vida, é não se apropriar do privilégio de quem segue os passos de Jesus.


[1] AG significa Ad Gentes, o decreto sobre a atividade missionária da igreja, um documento produzido pelo Concílio Vaticano II. Este Concílio foi convocado no dia 25 de dezembro de 1961, tendo início em 11 de Outubro de 1962. Foi realizado em quatro sessões e só terminou no dia 8 de dezembro de 1965.

[2] “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2.9).

[3] BOSCH, David J. Transforming Mission: paradigm shifts in theology of mission. New York: Orbis Books, 2011, pg. 381.

[4] Mateus 11.28