O Rev. Francisco Leonardo Schalkwijk, nosso reitor no Seminário Presbiteriano do Norte, não se cansava de nos avisar no início da década de 1980, que o pastorado era a vocação de quem se submetia a ser “pano de chão”. Se alguém não suportasse ser humilhado e pisado, não tinha vocação para o pastoreio. Ele nos falava isso constantemente em seus sermões. Para ele, humildade associada à fidelidade eram as características essenciais que definiriam o ministério de um bom pastor. Muitos anos se passaram e muito aprendi nesses 32 anos de ministério. O Reverendo Francisco continua tendo razão.

Aprendi nesses anos que a vocação não depende do vocacionado, depende de quem o vocaciona. Geralmente, quem diz que quer ser pastor dificilmente o será. Não me peça explicações, mas é assim na maioria quase absoluta. Os verdadeiros vocacionados nem imaginavam que seriam pastores do reino de Deus; foram surpreendidos por Ele para assumirem essa grande tarefa. Já imaginou a responsabilidade de pastorear o rebanho, por quem Deus entregou à morte o seu próprio Filho? Pastores verdadeiramente vocacionados inicialmente ficam impressionados ao perceber que Deus inclinou o coração deles para serem pregadores à frente dos redimidos. Eles geralmente são pegos de surpresa como Davi, no meio do campo, jamais considerando que havia sido escolhido por Deus para liderar o povo eleito.

Essa vocação pastoral é realizada com humildade, consciente de que tudo na vida ocorre pela graça. Não esperar qualquer reconhecimento na terra é um bom exercício que a piedade cristã docemente impõe sobre os vocacionados. A honra de um fiel pastor só será definitivamente reconhecida na glória da Casa de Deus; sim, no céu. Ali todos saberão que ele perseverou humildemente até o fim, pastoreando em todo tempo, com graça e bondade, porque entendeu que no “tempo oportuno” Deus o exaltaria conforme Pedro escreveu (I Pedro 5.6).

A genuína vocação pastoral passa também pelo viés da fidelidade. Não há como ser um pastor de Deus se não houver fidelidade, pois Ele tem uma estima especial com gente fiel, com quem trabalha para que seu Filho seja engrandecido. Os fieis são chamados de “embaixadores de Cristo” (II Coríntios 5.20) e são considerados “despenseiros dos mistérios de Deus” (I Coríntios 4.1). É uma fidelidade atrelada à verdade e ao amor, o que faz deles pastores verdadeiramente amorosos e amorosamente verdadeiros.

A vocação pastoral ainda é desenvolvida em meio a lutas e perseguições. É curioso que líderes infiéis (alguns dando provas até de completa ausência de fé) nem sempre são combatidos com a mesma veemência que fieis pastores que não se curvam diante dos postes ídolos da religião. Pastores que decidiram ser fieis Àquele que os vocacionou muitas vezes acabam sendo excluídos das decisões acordadas nos palácios do Sinédrio. Paulo não poupa o seu discípulo Timóteo ao expor-lhe as dificuldades próprias do ministério pastoral.“Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, – que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (II Timóteo 3.10-12).

Saiba que quando o inimigo não consegue derrubar um líder fiel, ele faz tudo para derrubar a sua reputação. Os pastores que tiveram sua reputação manchada pelas mentiras de gente má devem se lembrar das promessas de Deus a seu povo. São promessas que ainda valem pra hoje: Mas, se diligentemente lhe ouvires a voz e fizeres tudo o que eu disser, então, serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários” (Êxodo 23.22). Vá em frente e deixe que Deus trate daqueles que o perseguem. Tão somente, continue pregando o Evangelho da graça. Aprendi com um amigo, citando-me um provérbio chinês, que “uma muralha que cai faz mais barulho que o trigo que cresce. E o trigo continua crescendo”. É isso; continue crescendo. Não se importe com o barulho à sua volta. Continue pregando debaixo da bênção do Senhor. Faça como Neemias: apesar das calúnias, não pare a obra que você está fazendo sob a ordem de Deus.

Por fim, quando envelhecerem, os fiéis pastores perceberão que o Todo Poderoso não só os vocacionou, como os dirigiu em todo o tempo, apesar das lutas, das incompreensões, da solidão, das perseguições, das mentiras, das soberbas. Deus faz isso com os vocacionados, livrando-os dos homens maus e, acima de tudo, livrando-os de si mesmos. Estes pastores podem dizer como Paulo: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo” (II Coríntios 2.14).