Quem convive comigo sabe o quanto eu gosto de conversar. Eu resolvo meus problemas conversando sobre eles, falando deles, descrevendo-os e analisando-os minunciosamente com o coitado que estiver ao meu lado. Não só resolvo meus problemas verbalizando-os, como também potencializo minhas alegrias em uma boa conversa. Minhas palavras de alegria geralmente são ditas em meio a muito riso e gargalhadas, o que às vezes dificulta a comunicação – mas são palavras que têm de ser ditas.

Às vezes acontece de eu estar tão feliz em contar um fato engraçado ou uma piada, que não consigo terminar o relato. A gargalhada se confunde com a fala, me fazendo sacudir os ombros e tremer de tanto rir, rir, rir… Enquanto isso, a Mônica fica me olhando consternada, com as sobrancelhas levemente levantadas, meio que rindo da minha cara e pensando: “Eu me casei com um idiota!”

Rindo ou chorando verbalizo o que está em meu interior. Faço isso com meus amigos, com gente que não tem medo de intimidade. O fato é que conversar (seja para compreender um problema ou para compartilhar uma alegria) é tão bom que o próprio Deus não abriu mão de uma boa reunião com os amigos. Basta ler os Evangelhos observando quantas vezes Jesus está à mesa com os seus amigos, na companhia de pão e vinho.

Curiosamente, hoje em dia ninguém conversa com ninguém, a não ser o trivial, pois conversar compromete, revela a alma de quem está dizendo algo, o que quer que esteja sendo dito, e expõe quem está verbalizando algo. Por isso, a maioria prefere mais o silêncio que a fala, mesmo estando numa roda de amigos. Veja que entre amigos, a maioria ouve, enquanto uns poucos corajosos assumem a liderança do que está sendo dito. Poucos são os que de fato falam. A maioria fica apenas ouvindo e concordando, sem se comprometer.

A vida no meio cristão não significa necessariamente estar num ambiente de muita conversa, muito diálogo. Há igrejas cujos relacionamentos são silenciosos. Em outras, conquanto haja muita euforia, também é possível perceber a ausência da boa conversa de grandes amigos.

Então me lembro do tanque de Bethesda… Todos ali eram crentes, criam em milagres, criam que um anjo de Deus em certo tempo revolveria as águas daquele tanque e o primeiro que se lançasse nas águas seria curado. O tanque de Bethesda não era ambiente para ateus – era o ambiente de crentes. Contudo, apesar de serem crentes, cada um pensava em si mesmo. Ali todos estavam juntos em busca de um milagre pra vida, mas cada um na sua, cada um com seu drama, cada um com sua história. “Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque” (João 5.7) disse aquele infeliz e solitário, ainda que no meio da multidão de crentes. Não havia um, ninguém pra ajudar no meio dos que criam em Deus.

Não estaremos todos como aqueles enfermos à beira do tanque de Bethesda? Não estaremos todos juntos, mas eternamente separados? Juntos fisicamente, mas separados pelo egoísmo de se lançar primeiro nas águas, separados pela vontade de conseguir o milagre antes do outro, separados pela profunda indisposição em ouvir a história dramática de quem sofre ao lado?

O tanque de Bethesda está à minha frente, mas não preciso mais me lançar nele, porque a verdadeira cura ocorre fora de suas águas. Ocorre no momento em que me disponho a conversar sobre a minha vida, sobre os meus dramas, sobre os meus sonhos. Não foi isso que fez aquele paralítico? Conversou com quem de fato ouvia? Conversou com Jesus? Conquanto a palavra final – da cura – venha de Jesus, tudo começa com uma conversa. Quando converso com quem me escuta e me entende, percebo a boa mão de Deus a me dirigir, descubro os bons ouvidos do Senhor entre meus amigos, atentos à minha história. Numa conversa de coração aberto – com gente de confiança – compreendo que Jesus ainda caminha pela borda do tanque de Bethesda. Ali Ele me encontra. E ali Ele me diz: “Queres ser curado?” “Senhor, é tudo o que eu quero!”

Na medida em que converso com gente de Deus, gente de verdade que não se esconde atrás de estereótipos, e que entende o que é graça e perdão, então percebo que a vida abundante de Jesus está ao meu alcance. Não só ao meu alcance, mas ao alcance de todos quantos querem ser curados no dia-a-dia. É por isso que eu não abro mão de um bom café com os amigos. Ali, entre uma xícara e outra, rimos e choramos diante do Senhor. E Bethesda mais uma vez se torna realidade em minha vida.

E então? “Queres ser curado?”