Fico pensando no que tem na cabeça dos caras que definem os nomes e categorias dos filmes veiculados no Brasil. Um dia desses, eu estava vendo novamente “Pleasantville: a vida em preto e branco”, um drama intenso, dirigido por Gary Ross, mas classificado como comédia. Comédia? Alguém é capaz de rir num filme desses? É de lascar. Outro. “Mister Cory”, um clássico dirigido por Blake Edwards (o mesmo que dirigiu todos os antigos filmes da pantera cor-de-rosa), saiu com um título brasileiro absurdo: “Hienas do pano verde”.

Tem gente que nada sabe do que está à sua volta, mas se acha entendida. Escuta samba crendo que está ouvindo Schubert, toca violão pensando ser piano, ouve bobagens ditas em nome de Deus e ainda exclama: “Aleluia!!!” São os mesmos, os de sempre. Essa turma estava ao lado de Jesus e nada entendia. Traduzia o Filho de Deus de acordo com suas crenças, suas expectativas, de acordo com suas aspirações. O que queriam mesmo era pão, ainda que pra isso tivessem que ficar sentados na relva por um bom tempo ouvindo palavras sobre um tal reino dos céus.

Nicodemos, por exemplo, era mestre em religiosidade vazia, mas ansiava por uma vida autêntica e abundante vinda do trono de Deus. Por isso, foi conversar com Jesus e dele ouve: “Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?” (João 3. 10). Nicodemos pensava que a vida de Deus se limitava às programações de sua sinagoga, que tudo se limitava àquele ir e vir, semana após semana, reza após reza, hino após hino, sem que nada, absolutamente nada de extraordinário acontecesse em sua existência. Por isso, o vazio de sua vida o impulsiona a procurar Aquele que era uma aventura só, Aquele que por onde passava derramava graça e poder e cura e vida e novidade e alegria e certeza inequívoca da presença do Todo Poderoso.

Mas tem quem nada entende, mas se acha. Por isso, traduzem títulos de filmes da maneira mais ridícula possível. Por isso, pregam em nome de Deus o que Deus nunca disse. Por isso, obedecem a quem não deviam obedecer, vivem como não deviam, sofrem por aquilo que não deveria causar sofrimento e deixam de experimentar a abundante vida proposta por Jesus, satisfazendo-se com migalhas legalistas, disfarçadas de piedade, que entopem o dia-a-dia com programações “cristãs”, que mais servem pra programar o sujeito a ter uma vida impensante e mecânica, do que levá-lo aos rios abundantes de vida em Jesus.

É a medíocre vida das mil-e-uma-atividades, que cansa absurdamente quem dela participa, dando a falsa impressão de que se está fazendo “a coisa certa” para deixar Deus satisfeito com a sua exaustão em sua “obra”. É a vida projetada dentro dos templos, por gente ligada àqueles caras que traduzem títulos e classificam filmes para o mercado brasileiro. Se eu não tomar cuidado, essa vida me transforma numa máquina, me faz semelhante a um “operário” do ramo religioso, com relógio de ponto na entrada da igreja, bem ao lado da cruz.

O que se produz com isso, senão uma vida antinatural? Senão uma falsa vida cristã, cheia de jovens com alma de velho, casais vivendo um teatro para que os outros pensem que estão bem, até que um dia tudo explode – porque ninguém consegue representar o tempo todo sem entrar num processo de esgotamento emocional e mental -, idosos sem qualquer alegria, porque não podem mais se gastar até virarem pó na “obra do Senhor”, e assim fazê-lo satisfeito por um pouco. Em ambientes assim há um completo desconhecimento do Deus da graça.

Deus me livre de ser um maria-vai-com-as-outras. Que Ele me dê o privilégio de enxergar a vida com os Seus olhos, de sentir a vida com o Seu coração e de ouvi-la com Seus ouvidos. Que Ele me faça enxergar a realidade como ela é de fato, e não como me parece.

Que Ele me dê o privilégio de experimentar Sua abundante vida, com santidade e verdade. Só assim verei, ouvirei e sentirei o que é certo. Só assim viverei como Ele sempre quis que eu vivesse.

Dá licença, Senhor? Me empresta os seus óculos?