Há alguns anos, a liderança da minha igreja passou vários meses tentando encontrar uma área na região em que estávamos plantando nossa comunidade, para que ali pudéssemos nos estabelecer. Depois de muita procura acabamos descobrindo um prédio vazio com dois bons auditórios e várias salas adjacentes onde poderíamos nos instalar muito bem como igreja. Contudo, infelizmente não pudemos nos transferir para ali, pois uma igreja que antes alugara o prédio conseguiu fazer com que a vizinhança rejeitasse completamente qualquer tipo de igreja evangélica. Fomos informados que, a despeito dos pedidos da vizinhança, aquela igreja não cedeu; continuou com seus cultos madrugada adentro, utilizando instrumentos musicais ligados em volumes altíssimos. Mesmo diante de uma vizinhança fazendo denúncias ao governo local para que mudasse sua dinâmica, ainda assim continuou agindo como se os outros fossem inimigos e não objetos do amor de Deus, prontos a serem alcançados. Ao invés de conquistá-los, trabalharam de tal modo que se tornaram inimigos. Ainda hoje essa igreja é mencionada por uma de suas programações, em que ficaram por 48 horas tocando e cantando ininterruptamente, a despeito dos insistentes pedidos para baixarem o som. O evento se tornou conhecido como “48 horas de Adoração”.

Diante de um fato tão grave e infelizmente tão comum, muitas perguntas me deixam inquieto. Qual a relevância daquela antiga comunidade para a sua própria vizinhança? Ora, eles não apenas perderam a oportunidade de conquistar vidas sedentas do evangelho, como ainda impediram outras igrejas de fazê-lo. Tenho aprendido dia após dia, que as pessoas querem o Evangelho, não querem é a importunação; elas querem uma nova vida em Cristo, não querem é ficar acordadas por quarenta e oito horas de suposta “adoração”. Diante de um quadro assim é relevante lembrar de Mahatma Gandhi, quando foi perguntado pelos missionários ingleses, se ele cria em Jesus Cristo. Sua resposta foi: “No vosso Cristo eu creio, eu não creio é no vosso cristianismo”.

A igreja precisa ser relevante para a sociedade, não para si mesma. Uma igreja missional é uma igreja que pensa olhando para fora. Ela tem um verdadeiro entendimento de sua missão. Ela é de fato uma ekklesia, termo grego, cujo significado literal é: “chamados para fora”. A igreja autêntica é a comunidade dos que são chamados para fora do arraial, chamados para fora de suas estruturas físicas, de seu conforto. Essa igreja não teme ir lá fora para alcançar os não-alcançados, sua vizinhança é seu alvo, tanto quanto os povos não alcançados do outro lado do planeta.

Uma igreja que olha “para fora”, para horizontes além de suas paredes físicas é uma igreja que naturalmente se torna relevante. A sua missionalidade faz com que ela afete seu próprio meio. Por isso, essa igreja missional abraça todos os projetos que possam levar o nome de Jesus àqueles que não o conhecem. É uma igreja que não teme gerir uma escola, um hospital, um grupo de teatro, uma creche para crianças, uma escola de ballet, um orfanato etc, TUDO para que o nome de Jesus seja proclamado como o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. É verdade que essa igreja não existe para manter programas sociais, isso é tarefa do Estado, mas ela faz desses programas uma estratégia para anunciar Jesus e (ainda que essa não seja sua meta principal) se tornar relevante para a sociedade.

Todos querem uma igreja relevante ao lado de suas casas, se seus filhos puderem frequentar a escola da igreja, se eles aprenderem tocar um instrumento musical na escola de música da igreja, se puderem enviar os idosos para o centro de convivência da igreja, se puderem ter uma assistência médico-odontológica na clínica de saúde da igreja, se puderem tratar o filho drogado na clínica de desintoxicação da igreja, se puderem sentir que são amados pela igreja, e que essa igreja se preocupa com eles.

Se as igrejas agirem assim, quão relevantes serão? É certo que igrejas missionais afetam naturalmente a sociedade. As pessoas as querem ao lado, pois uma igreja relevante estrutura a vida de quem é atingido pela poderosa mensagem do Evangelho.