Há alguns anos entrevistei vários casais evangélicos, que me contaram suas experiências sexuais em detalhes. O projeto fazia parte da minha pesquisa de mestrado. Ao todo foram 285 páginas de entrevistas digitadas, das quais utilizei apenas 30%, que me renderam o mestrado e mais tarde o livro “O Comportamento Secreto”. O que percebi naquela ocasião é que os casais evangélicos mantinham relações sexuais tanto quanto os não-evangélicos, com práticas semelhantes, em forma e variação, excetuando-se o sexo grupal e a homossexualidade. Mesmo assim, alguns casais revelaram que em suas fantasias mais íntimas utilizavam o recurso dos “parceiros invisíveis”. Ora ele falava ao ouvido de sua esposa sobre um imaginário parceiro, ora ela se via com outro, ou outra parceira, na cama. Também verifiquei na pesquisa, a prática do que um deles chamou de “aproximador de prazer”, numa referência à utilização da dor na relação sexual, por meio de tapas, arranhões ou mordidas, ainda que em pequena escala. Ouvi e analisei também boas histórias de amor, de compromisso, de aliança, de descobertas e alegrias, apesar das dúvidas.
Durante a pesquisa o que mais me chamou a atenção foi a culpa. Alguns chegaram a me dizer que haviam desistido, e que não lutavam mais contra a culpa de se relacionarem de modo antibíblico, mesmo que muitas práticas relatadas não necessariamente eram antibíblicas, mas os entrevistados assim criam. De lá pra cá sempre venho sendo consultado, seja por alguns casais em separado, seja por um dos cônjuges, ou após palestras em retiros voltados para casais cristãos.
Algumas observações que tenho feito, desde a pesquisa:
- Casais evangélicos têm enormes carências quanto à questão sexual, pois praticamente não se fala de sexo nas igrejas;
- Boa parte dos casais evangélicos vive uma crise nessa área, e geralmente um dos dois está insatisfeito com sua vida sexual;
- Há uma grande carga de culpa relacionada à questão sexual, pois no imaginário coletivo religioso, sexo está intimamente associado a pecado, mesmo quando realizado no casamento;
- Há muito pouca liberdade sexual entre os casais evangélicos, pois ambos os cônjuges (ou um dos dois) consideram algumas práticas sexuais entre os dois como tabus;
- A maioria dos casais faz um divórcio entre a vida sexual e sua vida espiritual, de modo que sexo nada tem a ver com Deus e sequer é nomeado em suas orações ou é motivo de ação de graças;
- Entre os casais evangélicos há uma tendência de leitura fundamentalista da Bíblia, contrapondo-se à uma prática liberal.
Pois bem, o que fazer diante disso?
Em tempos de tanta pseudo-informação sobre sexo, primeiramente é preciso que o casal converse de modo franco sobre essa área, pois Deus quer que o sexo seja algo abençoador na vida de seus filhos. Ao conversar com o seu amor, diga a ele quais as suas fantasias mais íntimas e também quais as suas curiosidades sexuais. Diga o que excita você no corpo dele. Sim, no corpo de seu cônjuge. A Palavra de Deus recomenda que “o marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido” (I Co. 7.3). Portanto, conversem francamente e descubram o que é “devido” a você e seu amor. Você e seu par, diante de Deus, é que decidirão o que é devido a vocês.
Cultivem uma vida de cumplicidade. Saiam juntos para jantar e conversem sobre sexo, criem experiências sexuais juntos, deem asas à imaginação, pois Deus fez os seus filhos criativos. Não se esqueça de que os anos não apagam o desejo sexual, apenas o torna rotineiro e sem graça, se o casal não promovê-lo com criatividade e santidade.
Ame o seu par. Demonstre isso com todas as suas forças. É sabido que sexo com amor é infinitamente melhor. Para tanto, verbalize o seu amor. Diga a ela o quanto a ama, ou a ele o quanto ele é importante para sua vida.
Ore por sua vida sexual. Coloque-a diante do Senhor e peça a Ele que lhes dê oportunidades para desfrutarem desses momentos íntimos com muito prazer, amor e edificação mútua. E depois de tudo, que seja esse um motivo de gratidão Àquele que planejou a vida sexual para ser impressionantemente bela e satisfatória.
Faça isso e você e o seu par serão mais felizes na cama, ao compreenderem a vontade de Deus para suas vidas. Perceberão que muitas culpas não têm fundamento bíblico, mas foram herdadas de um mundo religioso e legalista, sob uma pretensa e falsa forma de vida cristã.
Obs: Caso queira saber um pouco mais sobre “o que pode e o que não pode” na cama do crente, clique aqui.