Se você anda cansado de impostores à frente da igreja falando em nome de Deus, o que Deus nunca disse, não está sozinho. Jesus também se irritou com essa gente que dava a entender que era cheia do Espírito, mas que no fundo não passava de manipuladores vivendo da boa fé dos incautos. A carta de Judas foi escrita só para alertar a igreja a respeito destes, que “se introduziram com dissimulação” (Judas 4) entre os salvos, e nada mais são do que “pastores que a si mesmos se apascentam” (Judas 12).

É gente sorrateira, geralmente imperceptível à primeira vista, mas abomináveis pelas suas ações disfarçadas de piedade. Jesus os chamou de “raça de víboras”, uma vez que o discurso dessa gente transpira santidade enquanto sua prática destila veneno. Muitos desses impostores estão nos púlpitos e são seguidos por centenas, milhares de pessoas. Eles pregam semanalmente, contudo, ouvirão do próprio Senhor uma palavra final, no último dia: “Nunca vos conheci. Aparta-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt. 7.23). Eles são impostores ocupando os púlpitos das igrejas e pregando suas próprias neuroses, ao invés de pregar o que está no coração de Deus.

Há pelo menos dez características que me ajudam a identificar esse falso pastor, para distingui-lo dos verdadeiros.

  1. Ele prega que o homem é o sacerdote da casa (sendo ele o sacerdote maior da igreja), e que a bênção de Deus só alcança a família se esse homem abençoar sua casa, deixando de lado a doutrina do sacerdócio comum dos crentes, fartamente comprovada no Novo Testamento, que ensina que, agora em Cristo, todos (homens e mulheres, casados ou solteiros) são sacerdotes do Senhor.
  2. Ele se porta e faz questão de que suas ovelhas o vejam como o “ungido do Senhor”, alguém especial, que deve receber um tratamento diferenciado, pois Deus fala diretamente a ele, o que não fala aos demais. Suas palavras, por mais absurdas que sejam, geralmente começam com: “Deus me disse que…”
  1. Ele é extremamente raivoso, e se enerva facilmente quando suas ordens são contestadas, ainda que à luz das Escrituras, pois seu maior prazer não é que as ovelhas cumpram a Palavra de Deus, mas sim, que cumpram a sua palavra – sempre alardeada como se fosse a última revelação dos céus.
  1. Seus sermões imprimem culpa à igreja, domingo após domingo, para que no final dos cultos possa chamar os culpados à frente e dizer-lhes que Deus os absolverá dessa culpa, quando ele (o sumo-sacerdote da igreja) orar por eles.
  1. Ele seleciona apenas algunsaspectos do Evangelho, que possuem maior poder de atração, e se concentra nesses temas, que são recorrentes em sua pregação, como cura divina ou profecia ou guerra espiritual. Para ele, a ideia não é tratar as pessoas com o Evangelho pleno da Palavra, mas atrair o maior número de pessoas ao seu redor com temas que têm maior poder de atração.
  1. Ele transpira vaidade e gasta desmedidamente em favor de si mesmo, para o seu prazer, sem qualquer pudor diante dos mais humildes do rebanho. E para calar os descontentes com a gastança sem medida, ele ensina que o “ungido do Senhor” merece comer, beber e vestir-se do que houver de melhor. Para ele, Deus é o dono do ouro e da prata, e ele é o gerente.
  1. Ele é dominado pela sensualidade, e cultiva um mundo erótico secreto, sendo sua pregação (fundamentalista, na maior parte das vezes) nada mais do que uma tentativa frustrada de proteger-se dos inimigos que seus próprios medos lhe impuseram. Por isso, repete, à exaustão, o “não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquilo outro” (Col. 2.21), esquecendo-se de que essas coisas, “com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.” (Col. 2.23).
  1. Ele é egocêntrico e prepara a mente de sua igreja para girar em torno dele. Ele (e não Jesus, por meio de sua igreja) se torna o centro da pregação, dos treinamentos, das campanhas evangelísticas e de quaisquer outras atividades em sua igreja. Tudo gira em torno dele.
  1. Ele não honra compromissos firmados, nem mesmo compromissos financeiros, deixando pela cidade um rastro de dívidas atrás de si. Essas dívidas geralmente são contraídas com as ovelhas, pois estas temem levá-lo à justiça civil, imaginando o prejuízo que poderá causar à igreja.
  1. Ele provoca divisões e é insensível à dor dos outros, mesmo que sejam suas ovelhas, pois sua mensagem, em última análise, é sempre acusatória e destituída do que há de melhor quando se trata do fruto do Espírito de Deus.

Portanto, é importantíssimo orar e vigiar para não ser enganado. É fundamental analisar as Escrituras para verificar, tanto quanto os nobres de Beréia (Atos 17.11), se o que está sendo dito, bem como a vida de quem está dizendo (mesmo que seja um apóstolo Paulo), tem algum fundamento bíblico e coerência com o Espírito de Deus.

Em tempo de tanta impostura, cabe a mim pedir a Deus que me dê, ou dê a um irmão próximo a mim, o melhor dos dons para esses últimos tempos: o dom de “discernimento de espíritos” (Atos 12.10).

Somente assim sobreviverei e servirei a Deus com o coração limpo, apesar da multiplicação de Caifás, o sumo-sacerdote que não conhecia a Deus (Mt. 26.57).