A gente vive de um lado pro outro, correndo daqui e dali e nem percebe a história que Deus está construindo em nós e por meio de nós, com os nossos acertos e tropeços. É uma história desconhecida, quase invisível, geralmente despercebida aos nossos olhos, mas que está sendo escrita pela boa mão do Senhor. Na verdade, é uma história dentro da história.
Olhamos à nossa volta e parece que nada está acontecendo, a não ser o que pode ser relatado por nós, mas Deus vai tecendo a sua trama no que parece não ter qualquer importância. E assim, meros figurantes vão sendo transformados em personagens importantes. Mesmo quando não percebemos, o Senhor faz com que detalhes da nossa vida mudem pessoas, alterem destinos, e nós mesmos vamos sendo transformados por meio da vida dos irmãos e amigos. Não tem sido assim? Não foi assim também com os personagens bíblicos?
Na vida do apóstolo Paulo houve um artesão que construiu um grande cesto pensando estar fazendo apenas mais um grande cesto. Na verdade aquele artesão estava entrando na história de Paulo sem que percebesse. Não fosse o seu trabalho e o apóstolo poderia ter morrido em Damasco, mudando todo o curso do cristianismo. O artesão, que sequer sabemos o nome, fazia parte da história do Senhor. Noutra ocasião, trinta homens foram convocados pelo rei para tirarem o profeta Jeremias de uma cisterna profunda onde havia sido lançado e condenado à morte. (Jeremias 38). Os trinta homens pensavam estar apenas tirando da cisterna mais um pobre coitado, quando na verdade estavam acertando o curso da história pelas mãos de Deus.
Se logo no primeiro século eu tivesse tido a chance de perguntar ao apóstolo Paulo qual era a obra mais importante de sua vida, provavelmente ele me diria que sua obra mais importante era a plantação de suas igrejas. Por elas ele estava sendo perseguido, preso, caluniado. Por elas ele havia viajado milhares de quilômetros. Por elas ele gastara toda a sua vida. Contudo, nada mais resta daquelas igrejas locais. A obra principal de Paulo, sem que ele percebesse, eram as cartas que ele escrevia às igrejas, e não as igrejas em si. Deus preservou suas cartas e as transformou em parte do que hoje é a Sagrada Escritura. Nem Paulo tinha consciência da preciosidade de suas cartas.
Quando penso que a mão de Deus está conduzindo a minha história, mesmo nas lutas, nas tristezas, nas dores, então descanso. Descanso porque sei que em algum momento da minha história entrará um artesão anônimo para me salvar em seu cesto. Sim, em algum momento da minha história também serei surpreendido por alguns homens me puxando da cisterna em que eu estiver jogado. Sei, contudo, que só compreenderei perfeitamente o que se passa à minha volta, quando lá no céu eu estiver diante do meu Pai. Mas enquanto isso não acontece, só posso dizer como Davi: “O que a mim me concerne o Senhor levará a bom termo” (Salmo 138.8).