A vida não é fácil de ser vivida. Pelo menos para a maioria das pessoas. Vivemos temendo perdas, pois o que conquistamos nos custou muito esforço.

Os discípulos de Jesus estavam com muito medo, depois de um dos sermões do seu mestre. Observe que a expressão “Não temais” se repete por três vezes no texto de Mateus 10.16-33. “Portanto, não os temais” (v.26); “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma” (v.28); “Não temais, pois!” (v.31). Havia uma razão pela qual Jesus admoestava seus discípulos a que não temessem. E a razão pode ser encontrada no que Jesus disse anteriormente. O que eles ouviram antes do próprio Cristo, fez com que ficassem apavorados.

Jesus disse que eles seriam enviados como ovelhas para o meio de lobos (v.16). Seriam entregues como réus diante dos tribunais (v. 17ª); Seriam considerados malditos nas sinagogas (v.17b). (o açoite era a pena para os malditos); Seriam enquadrados na lei de segurança máxima (v.18), e só os criminosos de alta periculosidade, os que tinham o potencial de perturbar toda a região, é que chegavam às audiências perante governadores e reis. Eles teriam que conviver com os inimigos dentro de suas próprias casas (v.21). Sim, os inimigos podiam ser encontrados na própria família. Por fim, eles seriam odiados por “todos”, por causa do nome de Cristo (v.22). Diante de tantos perigos, não havia como não temerem pela própria vida. A maioria tinha famílias, filhos. Apesar dos perigos, Jesus deu a eles pelo menos duas razões pelas quais não precisavam viver atemorizados.

Primeiramente, Jesus afirmou que os discípulos não passavam despercebidos aos olhos do Pai. “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados” (Mateus 10.29-30).

Observe que Jesus nos diz que temos um Pai. Ele é o “vosso Pai” (v.29). Há muita gente órfã nesse mundo, mas você é filho de Deus. A expressão “vosso Pai” se refere à sua relação com Deus. Esse Deus que é “nosso Pai” nos conhece detalhadamente. Jesus nos ensina que esse conhecimento detalhado leva Deus a saber cada fio de cabelo que temos em nossas cabeças. A Biologia calcula que, entre 20 e 30 anos, a cabeça humana tem, em média, 615 fios por centímetro quadrado, o que significa que temos aproximadamente 150.000 fios em toda a cabeça. Dos 30 aos 50 anos, o número cai para 485 fios por centímetro quadrado e vai diminuindo lentamente. Ainda assim, é muito considerando toda a área da cabeça.

Jesus, então, diz que “até os cabelos todos da cabeça estão contados” por Deus. Se Deus sabe onde está cada fio de cabelo, não saberia onde estamos e o que precisamos? Nada passa despercebido aos olhos do Senhor. Nem os fios de cabelo da nossa cabeça. Os olhos dele estão sobre nós, atentos às nossas necessidades, às nossas aflições. Seus ouvidos estão ouvindo nossas orações. John Piper nos ensina que “se Deus conta cada fio de cabelo da sua cabeça, então, ele está atento a cada uma de suas necessidades”.

Jesus ainda nos ensina que somos valiosos. “Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” (Mateus 10.31). O argumento de Jesus é de que valemos mais do que pardais. Se pardais sem valor são cuidados por Deus, quanto mais aqueles por quem o Senhor enviou o seu filho para morrer por eles?

Os pardais tinham pouquíssimo valor. “Não se vedem dois pardais por um ase?” (v.29) E Jesus conclui: “E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai” (v. 29). O asse era uma moeda romana, de cobre e de baixo valor. Valia algo em torno de 1/16 do denário. Em termos práticos, apenas como comparação, se um denário valesse dez reais, um asse valeria 10 reais dividido por dezesseis, ou seja, 0,62 centavos. Dois pardais por 0,62 centavos: logo, cada pardal valia apenas 0,31 centavos. Jesus está dizendo que mesmo pardais, cujo valor era tão baixo, não passavam despercebidos dos cuidados de Deus. Se pardais estão sob o olhar atento de Deus, quanto mais nós, seus filhos, por quem ele enviou o seu Filho amado?

Sim, Deus cuida do que lhe custou caro. Os remidos são valiosos, não por si mesmos, mas porque o sangue de Cristo foi derramado por eles, para resgatá-los da condenação eterna. O sangue de Cristo é que os torna preciosos, é que faz deles criaturas cheias de valor. Apesar das lutas, apesar dos lobos, da morte, da política, da falência hospitalar, do caos e de tantos outros fatores podemos descansar nas mãos do Senhor, pois ele cuida dos seus.

Se ele não perde a conta dos fios de cabelo, logo, sabe exatamente quem somos e onde estamos. Se o pardal só cai por terra com o “consentimento” do Pai, mesmo que seja uma avezinha insignificante, muito mais nós, por quem o Filho do Homem deu a própria vida. Resta-nos confiar e descansar em suas mãos.